Premio Leya 2024
Estamos em 1962, num país orgulhosamente só, e
vem aí a construção da primeira ponte suspensa
sobre o Tejo, para a qual vão ser precisos cerca de
três mil homens. A obra irá mudar para sempre a
paisagem da capital, muito especialmente para quem
vive em Alcântara, como é agora o caso de Victor
Tirapicos, instalado na casa dos tios depois de ter
envergonhado o pai com dois anos de cadeia só por
ter roubado pão e batatas para fintar a miséria.
É pelos olhos deste serralheiro de vinte e dois anos que veremos a ponte erguer-se um pouco
mais todos os dias e, ali mesmo ao lado, partirem os navios cheios de rapazes para a guerra do
Ultramar, donde muitos acabarão por voltar estropiados, endoidecidos ou mortos.
Porém, apesar de a modernidade parecer estar a matar a vida e os costumes do pátio operário
onde convivem (amigavelmente ou nem tanto) uma série de figuras inesquecíveis - entre elas
o mestre sapateiro que faz as chuteiras para o Atlético Clube de Portugal e um velho culto que
aprende a desler -, Victor Tirapicos encontra o amor de uma rapariga que é muda mas
consegue escutar o planeta, pressentindo a derrocada da estação do Cais do Sodré e outra
catástrofe ainda maior, que se calhar tem pés de barro e só acontece neste romance, mas bem
podia ter acontecido.